Teixeira: "Mesmo sem estar
fazendo efetivamente um racionamento (da água), estamos fazendo
racionalização".
Francisco Teixeira, secretário dos
Recursos Hídricos, garante que água do Castanhão, que abastece Fortaleza, hoje
é suficiente "até setembro de 2016". Ele descreve até um teste de
vazão por ondas.
O
secretário estadual dos Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira, descarta a
necessidade de um racionamento imediato em Fortaleza. Ele rebateu a sugestão
apontada por gestores do Dnocs e da Cogerh no Castanhão que, diante do quadro
crítico nas reservas hídricas do Estado, defenderam em entrevista ao O POVO, na
edição de ontem, que a redução no fornecimento de água para a Capital seja
adotada o quanto antes.
Francisco Teixeira - A primeira coisa que tem que ver é com
base em quê ele diz isso. Para gente definir a necessidade de um maior controle
de água, a ponto de chegar a um racionamento como ele está propondo, ele
precisa ter instrumentos matemáticos, modelos de simulação de reservatório,
para saber quando o reservatório vai secar, com que nível d´água o reservatório
vai chegar na próxima estação chuvosa. A gente leva em conta as possibilidades
de aporte de água, não é uma coisa determinística assim e não tão intuitiva
como ele colocou. O Ulisses fica ali fechando e abrindo a torneira do
Castanhão, gerenciando, mas ele não faz simulação. A Cogerh é que faz. A gente
entende que a situação realmente merece atenção, mas temos várias formas de
fazer controle da oferta e do uso para poder com que a água
dure mais tempo.
OP - Como
isso tem sido feito?
Teixeira - A
gente tem feito simulações do Castanhão, e elas não são tão simples porque a
gente simula de forma integrada com o Orós, e com o Banabuiú também - quando
ele tem água. Porque o sistema dos três reservatórios é integrado, estão
conectados à Região Metropolitana de Fortaleza através do Eixão das Águas,
Canal do Trabalhador e rio Jaguaribe. A gente simula junto com o (sistema) da
Metropolitana, tem que saber também a cota de nível mínimo que o açude Pacoti
tem que chegar. Simula tudo junto. Nas nossas simulações, a gente tem que levar
em conta a possibilidade do Orós aumentar a vazão para jogar água dentro do Castanhão.
Porque o Orós hoje não joga água no Castanhão, ele libera uma vazão mínima só
para perenizar (o rio Jaguaribe) até a entrada de água no Castanhão, até
Jaguaretama. A gente leva em conta isso e a situação dos açudes em Fortaleza.
Nas nossas simulações, a gente tem a disponibilidade de ir, claro que com o uso
bem adequado, economizando para irigação, economizando para Fortaleza, cortando
como a gente já cortou água para as culturas temporárias (de ciclo curto, como
milho, feijão ou criação de camarão), salvando estritamente parte das culturas
perenes (como a fruticultura). E em Fortaleza fazendo o controle efetivo, que a
gente faz, independente de campanha, na comporta do açude Gavião, a gente
imagina que pode chegar até setembro do próximo ano, aproximadamente. Se não
chover nada para o ano que vem, lá para setembro do próximo ano é que a gente
chega numa cota onde, aí sim, você tem que decretar um racionamento em
Fortaleza de fato. Porque ficaríamos submetidos a uma vazão de 10 metros
cúbicos por segundo, quando hoje precisamos em torno de 12 m³/s.
OP - A
água que existe hoje dá até setembro de 2016? Sem precisar do aporte do Orós?
Teixeira - Setembro
de 2016, mas precisaremos do aporte do Orós também.
OP - Na
reunião de amanhã (em Limoeiro do Norte, onde gestores de recursos hídricos
discutirão a nova distribuição de água dos reservatórios da região
jaguaribana), a possibilidade de uso do Orós para abastecer Fortaleza está
sendo cogitada?
Teixeira - Está.
Porque a reunião é um seminário integrado do Vale (do Jaguaribe). A reunião
leva em conta a alocação de água integrada dos açudes Orós, Castanhão e
Banabuiú. Dentro das possibilidades, há a que já estabelece uma forma de uso da
água muito controlado. O uso controlado como reflexo de uma
oferta controlada.
OP - Detalhe
melhor esse uso controlado.
Teixeira - A
liberação do Castanhão de, no máximo, 21 m³/s. Tanto somando a vazão que libera
para o rio como a que se libera para o Eixão das Águas.
OP - O gerente da Cogerh para o Baixo e Médio
Jaguaribe, Francisco de Almeida Chaves, disse ao O POVO que essa vazão já foi
reduzida, no início deste ano, de 21 para 12 m³/s.
Teixeira - Na
realidade, quando estou falando de 21, é a soma das duas vazões e é uma média.
Ou seja, eu posso ter mês que libero mais e mês que libero menos. É a soma do
que se libera para o rio e aquilo que se libera para o Canal.
OP - E
qual é então a vazão que se está liberando do Castanhão?
Teixeira - Passamos
o primeiro semestre do ano, fevereiro, março, abril, maio, liberando o mínimo
possível.
OP - E
o que era o mínimo possível?
Teixeira - Era,
por exemplo, o Castanhão que hoje libera 16 (m³/s) para o rio, tava liberando
cinco, sete, quatro. Por que? Embora a chuva tenha sido pouca, chovia
alguma coisa à jusante do Castanhão e correu pouca água no rio, mas correu.
Itaiçaba, onde fica a captação do Canal do Trabalhador, inclusive chegou a
verter com 12, 17 centímetros com água da chuva. O que a gente fez? Aproveitou
para bombear parte dessa capacidade máxima do Canal do Trabalhador para trazer
água para Fortaleza. Nós ganhamos artificialmente mais de 80 milhões de m³ no
sistema metropolitano bombeando água do Canal do Trabalhador e do Eixão das
Águas nos meses de fevereiro, março, abril e maio. Ou seja, a pouca chuva que
caiu não deu para aportar água no Castanhão nem no Banabuiú, mas gerou uma
pequena vazão na calha do rio Banabuiú e a gente bombeou pelo Eixão para
Fortaleza. E aquela pequena vazão que gerou na calha do Jaguaribe, em
Itaiçaba, bombeamos para Fortaleza. Somando essa vazão com a água que o açude
Pacoti – o principal que abastece Fortaleza - recebeu de chuva, a gente chegou
a acumular mais de 80 milhões de m³ no Pacoti. A gente está com o Pacoti com
uma cota controlada. Ele tem hoje um nível d´água que exige uma atenção, mas eu
diria que se encontra com um volume d´água melhor proporcionalmente, até mesmo
em valor absoluto, do que no ano passado.
OP – Quanto
é que o Castanhão está mandando hoje para Fortaleza, exatamente?
Teixeira – O
Castanhão manda para Fortaleza hoje exatamente nove metros cúbicos por segundo.
OP – Então
hoje o cenário de racionamento é totalmente descartado?
Teixeira – É,
racionamento é descartado.
OP – Mas
ele está sendo discutido?
Teixeira – Não,
para este ano não. O que estamos fazendo não é discutindo, é trabalhando de
forma efetiva com controle da oferta hídrica aqui na Região Metropolitana e no
Vale do Jaguaribe. Estamos fazendo esse controle segurando na galeria do
Castanhão. A gente andou inclusive operando o Castanhão em forma de ondas. É um
experimento que a gente fez e vamos continuar ajeitando algumas passagens
molhadas no rio Jaguaribe. Vamos voltar em 20 dias a operar com ondas de novo.
No experimento que a gente fez, pra você ter uma ideia, durante 20 dias, na
operação em ondas, conseguiu uma economia de quase 20% na vazão regularizada.
Hoje a gente solta 16 (m³/s) ali no Vale do Jaguaribe. Quando a gente solta em
ondas, cai pra 13 (m³/s) a média, economiza três m³/s.
Teixeira – Em
vez de eu liberar 16 (m³/s) direto, libero 28, 29, 30, depois baixo pra sete.
Isso aí faz com que a onda d´água se dissipe mais rápido na calha do rio e
tenho menos perdas em trânsito e também menos oportunidade de secar água.
Porque ela passa de forma mais rápida e se apresentou muito eficiente em
relação ao que a gente faz hoje. É um outro artifício que a gente está usando.
E também trabalhando com os irrigantes, sobretudo no canal. O projeto Tabuleiro
de Russas, que, no ano passado e retrasado, chegou a consumir mais de três
metros cúbicos por segundo, hoje está consumindo 1,9 (m³/s). A gente também não
permitiu o plantio de culturas temporárias. São vários artifícios para
economizar.
OP – E
em Fortaleza?
Teixeira – Vou
dar um exemplo. Existe, entre os açudes Pacoti e Gavião, onde fica a estação de
tratamento de água (ETA), dois túneis paralelos. Tem duas comportas, uma pra
cada túnel. A gente controla essa comporta, deixa passar a vazão exclusivamente
necessária para manter o açude Gavião na cota que atenda a ETA da Cagece.
Estamos diminuindo o fornecimento dessa vazão, diminuindo o nível do Gavião,
fazendo com que a Cagece esteja trabalhando no limite do limite pra ela
fornecer a pressão necessária para atender à Cidade. Estamos dando uma vazão
pra Cagece atender Fortaleza dentro dos seus limites de pressão. Quando acusa
um problema de pressão num ou noutro bairro, a gente vai lá e solta mais um
pouco de água. Estamos trabalhando no limite.
OP – Se
houver necessidade de racionamento, é só para 2016?
Teixeira – Mesmo
sem estar fazendo efetivamente um racionamento, nós estamos fazendo essa
racionalização, eu diria. Estamos trabalhando no limite que a Cagece precisa
para ter as pressões na rede dela.
OP – O
senhor acha que o fortalezense está consciente da necessidade de economizar
água?
Teixeira – Nesse
aspecto, o Estado começou a desenvolver uma campanha na televisão. A Cogerh
está trabalhando em parceria com as rádios no Interior, mas chego a concordar
com você que o fortalezense precisa ser trabalhado de forma mais sistemática e
enfática, pra ele ter consciência do real valor que a água que chega a
Fortaleza tem. Uma água que vem de 200 quilômetros de distância, que precisou
fazer uma estrutura como o Castanhão, como o Eixão das Águas, que a operação
disso não é muito barata e que a água realmente não é abundante, é limitada.
Realmente, o fortalezense não tem essa consciência toda por morar na Capital,
numa cidade grande, beira da praia. Tem a falsa percepção de abundância de
água, até porque geralmente em Fortaleza chove mais do que no Interior.
Teixeira diz que até
a liberação de água do Castanhão através de ondas (aumentam o volume liberado,
depois reduzem imediatamente a uma quantidade bem menor) está sendo testada,
dentro das medidas adotadas pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídrocos
(Cogerh), para controlar mais efetivamente as reservas. E garante que a água
existente hoje no Castanhão dá “até setembro de 2016”.
O POVO - O que o Governo do Estado tem a dizer
sobre a sugestão dada pelo gestor técnico do Dnocs no Castanhão, de que comece
um racionamento imediato no abastecimento em Fortaleza, de pelo menos um dia
por semana sem água?
OP – Como é essa onda?
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