Assaltos à mão armada, arrombamentos de casas e até da Matriz foram revelados pelos moradores da cidade.
Assaltos,
arrombamentos, tráfico de drogas e mortes. Uma cidade assustada com a
escalada da violência pede ajuda às autoridades da Segurança Pública, da
Justiça e do Ministério Público Estadual (MPE).
Ladrões
arrombaram a Matriz de Santo Antônio, um dos ícones de Quixeramobim, e
violaram um cofre. O ataque ocorreu em agosto. Acreditando que não
haveria providências eficazes da Polícia, o pároco sequer fez B.O.
Fotos: fernando ribeiro
Esse é o atual quadro vivido pelos
moradores e visitantes do Município de Quixeramobim (206Km de
Fortaleza), considerado estrategicamente como o centro geográfico do
Ceará e que conta com uma população estimada em 72 mil habitantes.
Assaltos
Os
relatos dos cidadãos deixam claro que a segurança ali está em xeque.
Nos fins de semana, a tensão aumenta, a delegacia de Polícia Civil não
funciona. O Fórum fica fechado e resta à PM se dividir no atendimento de
ocorrências na sede do Município, na zona rural e, ainda, nas cidades
próximas que não contam com efetivo suficiente. A Reportagem do Diário
do Nordeste esteve em Quixeramobim e ouviu as queixas da população.
Um
dos recentes atentados à tranquilidade de Quixeramobim teve como ´alvo´
um dos ícones da cidade, a Igreja Matriz de Santo Antônio. O templo foi
arrombado por ladrões, que conseguiram violar um dos cofres e furtar
todo o dinheiro que havia sido doado pelos fiéis.
"Foi no fim do
mês de agosto. Quebraram a janela e um cadeado e arrombaram o cofre de
São Antônio", relata o padre Antônio José Garcez. Segundo o sacerdote, a
igreja decidiu não fazer um Boletim de Ocorrência (B.O.), por acreditar
que tal procedimento não teria qualquer efeito. Segundo o religioso, o
que aconteceu na igreja não foi um ato isolado. "Todos os dias nós
recebemos relatos dos fiéis sobre assaltos, roubo de celulares, mulheres
que têm as bolsas roubadas. Isso é corriqueiro", diz o padre. Ele conta
também que outro templo no Município, a capela do distrito de Passagem,
também foi atacada por ladrões.
"É uma situação triste. As
pessoas nos contam que saem de manhã para trabalhar e quando retornam
encontram suas casas arrombadas", diz o sacerdote.
Fugir
Outro
cidadão que relata a violência em Quixeramobim é o ex-conselheiro
tutelar Paulo César da Silva, que ocupa, atualmente, a função de
articulador da Associação dos Conselheiros e Ex-Conselheiros Tutelares
do Estado do Ceará. Preocupado e, ao mesmo tempo, indignado com a
crescente violência em Fortaleza, ele decidiu se mudar com a família, há
cinco anos, para Quixeramobim, acreditando que naquela cidade teria a
paz para educar os filhos, manter a família longa da violência e poder
trabalhar com tranquilidade.
O
prédio onde funciona a Unidade Integrada de Segurança da cidade (USI)
está em péssimas condições estruturais e não há delegado de plantão nos
fins de semana
"Busquei isso tudo aqui em Quixeramobim, mas, de um ano para cá a situação está ficando, cada vez mais, complicada".
Até ´saidinhas´
Segundo
o ex-conselheiro, até mesmo ´saidinhas´ bancárias, crime típico das
grandes cidades, têm sido registradas em Quixeramobim. Ele conta o caso
de um motorista de um transporte alternativo que foi atacado no último
dia 12, uma quinta-feira. O caso ocorreu no distrito de Fogareiro, na
zona rural e nenhum dos assaltantes foi preso. Pelo menos, cinco
bandidos armados assaltaram o motorista, que, teve que entregar o
dinheiro e por muito pouco, não foi morto pelos delinquentes na hora do
ataque.
As queixas da população, segundo Paulo César, vão mais
além da questão da segurança pública e alcançam também a inoperância das
autoridades que deveriam tratar do combate à violência.
Segundo
foi relatado pelos moradores, somente neste ano, pelo menos, cinco casos
de violência sexual contra crianças e adolescentes foram registrados
pelo Conselho Tutelar da cidade e, até agora, apenas em um dos casos o
Ministério Público do Município (Promotoria) agiu para apurar o fato e o
acusado ser punido dentro da lei. Os processos se acumulam no Fórum e
quando há julgamento popular o MP precisa ser representado por
promotores de Comarcas vizinhas a Quixeramobim.
Nem B.O.
Nos
fins de semana, a insegurança que já domina a cidade nos dias úteis
aumenta. A Reportagem esteve na Delegacia de Polícia de Civil (na manhã
do último dia 14, um sábado) e apenas dois jovens aprendizes estavam no
prédio. Segundo eles, não havia delegado de plantão e simples Boletins
de Ocorrência somente são feitos nos dias úteis.
Comerciante relata ação de bandidos
Aos
70 anos de idade, o comerciante e distribuidor José Amâncio Neto relata
os casos de violência que sofreu nos últimos dois anos em Quixeramobim.
Desde o longínquo ano de 1967, "Seu´ Amâncio mantém seu estabelecimento
comercial às margens de uma estrada, na entrada do Distrito de São
Miguel, distante 32 quilômetros da sede do Município e é ali que ele, a
esposa e seus funcionários viveram constantes atos de violência
recentes.
´Seu´
José Amâncio já sofreu cinco assaltos nos últimos meses. Ele conta que
teve que contratar um policial para fazer sua segurança e paga aluguel
do posto da PM
Amâncio conta que, nos últimos meses, foi
assaltado, pelo menos cinco vezes. Os ataques são sempre marcados pela
violência dos bandidos, que invadem o armazém dele já com armas de fogo
em punho.
Roubos e ameaças
"Numa dessas
vezes, eu estava lá dentro de casa, deitado, quando o bandido apareceu e
gritando para que eu entregasse todo o dinheiro. Entreguei o que tinha
em casa, mas ele queria mais e dizia que se eu não abrisse o cofre ia me
matar. Eu e meinha mulher fomos ameaçados e tive que entregar tudo, mas
esta foi só uma das vezes. Teve mais", conta o veterano negociante.
Em
outro assalto recente, segundo o comerciante, dois ladrões apareceram
numa motocicleta e roubaram todo o dinheiro que estava no caixa do
armazém. Não achando pouco, eles disseram que iam voltar. E voltaram. Um
deles apontou a arma para ´Zé Amâncio´ e repetiu que queria todo o
dinheiro.
O comerciante tentou diminuir seu prejuízo afirmando
que o dinheiro que tinha estava no caixa. O bandido, com um revólver na
mão, apontado para a vítima, não se fez de rogado e bradou. "Toda vez
que venho aqui é essa mesma história de que tem pouco dinheiro, vamos,
diz logo onde está o resto...".
Em um terceiro assalto, segundo
Amâncio, ele resolveu perseguir os assaltantes que estavam de moto. Na
estrada, conseguiu jogar um caminhão contra a moto dos ladrões e fez os
dois caírem. Um deles ainda conseguiu escapar mesmo ferido. O outro,
ficou seriamente lesionado e acabou preso. "Ele foi preso. Mas, depois,
me arrependi do que fiz. Ele ficou preso e jurou que ia me matar quando
fosse solto".
Em mais um assalto em seu comércio, Amâncio disse
que uma das funcionárias foi levada como refém por dois ladrões numa
motocicleta e deixada na estrada a vários quilômetros dali.
"Chegadinha"
O
mais recente episódio de violência pelo qual passou o velho negociante
de Quixeramobim aconteceu no dia 1º de abril último. Mas não foi
mentira. E Amâncio mostra o Boletim de Ocorrência que registrou.
Foi
na porta de uma agência bancária, em plena 8 horas, começo de
expediente. Ele foi até o banco depositar a renda obtida no fim de
semana prolongado. Era uma quantia estimada em R$ 35 mil. "Quando
chegava no banco, apareceram dois homens de moto e capacete. Um deles me
derrubou com uma arma na mão e levou parte do dinheiro", disse o
ancião, sem saber que este tipo de crime é conhecido na Capital
´chegadinha bancária´, e que chegou ao Sertão. Até agora, cinco meses
depois do roubo, ninguém foi preso.
Deficiência policial agrava a situaçãoA
deficiência de efetivo é um dos principais problemas que a Polícia
enfrenta, tanto a Civil como a Militar. Além disso, a falta de estrutura
adequada para os serviços da Segurança Pública são visíveis em
Quixeramobim, conforme constatou a Reportagem. O prédio que abriga as
duas corporações, e mais o Corpo de Bombeiros, revela completo desgaste e
as péssimas condições de atendimento à população local.
O
prédio da Unidade de Segurança Integrada (USI) está em precárias
condições de funcionamento. O aspecto é de abandono. O mato cresce na
frente do Quartel
Nos fins de semana, Quixeramobim fica sem
delegado, sem juiz e sem promotor de Justiça, assim como acontece na
maioria dos Municípios do Interior. Moradores relatam que, quando são
assaltados nos sábados ou domingos, precisam esperar que chegue
segunda-feira para o registro de um simples Boletim de Ocorrência
(B.O.).
Já a Polícia Militar, tem que atender não somente às
ocorrências de Quixeramobim, mas também dos Municípios vizinhos, o que
desfalca a já precária segurança daquela cidade.
Informações
colhidas pela Reportagem revelam que o delegado da cidade tem, várias
vezes, que sair de lá para dar plantão em delegacias de Fortaleza nos
fins de semana. Assim, o delegado-regional de Quixadá vem respondendo
também pelas delegacias de Quixeramobim, Banabuiú e Ibaretama.
Ronda
"A
situação aqui só não está ainda pior porque tem o Ronda do Quarteirão.
Mesmo assim, a segurança não existe e quando chega a noite e o fim de
semana a coisa fica muito ruim", contou outro morador, que preferiu não
revelar a identidade. Na Unidade de Segurança Integrada (USI), o aspecto
é de abandono.
O QUE ELES PENSAMDesabafo dos cidadãos
"Tudo
piorou de um ano para cá. Já tivemos vários casos de furto de
transformador aqui nessa região. Na cidade tem também tiroteio entre os
traficantes de drogas. Um adolescente foi morto recentemente. E essa
violência aqui em Quixeramobim, como em qualquer outro lugar, reflete
nos negócios. Quixeramobim não era assim não, era uma cidade tranquila"
Ricardo PortoDono de um hotel fazenda
"Vim
de Fortaleza morar aqui em Quixeramobim com minha mulher e meus filhos,
acreditando que aqui ia ter paz. Fugi da violência na Capital. Mas, de
dois anos para cá, essa cidade ficou muito violenta também. Teve um caso
de um rapaz do transporte alternativo, que foi assaltado na semana
passada por cinco bandidos na estrada. Quase ele era morto"
Paulo César da Silva
Ex-conselheiro tutelar
FERNANDO RIBEIROEDITOR DE POLÍCIA
Fonte: DN.
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