Ação cita improbidade administrativa com formação de cartel na escolha do transporte intermunicipal cearense.
O
Ministério Público Estadual (MP-CE) deu entrada no último dia 14, no
Fórum Clóvis Beviláqua, em ação civil pública, denunciando atos de
improbidade administrativa com formação de cartel e fraude em licitação
de 2009 destinada à escolha de empresas para operar no transporte
intermunicipal cearense. Os cálculos estimam prejuízo no valor de R$ 20
milhões.
No
esquema, empresas de transporte combinavam previamente as condições
para participação do certame licitatório, conforme o Ministério Público
Na
ação, subscrita pelo promotor de Justiça de Defesa do Patrimônio
Público, Ricardo Rocha, são citados como participantes das
irregularidades os representantes legais da Fretcar Transportes, Locação
e Turismo Ltda, União Transporte Interestadual de Luxo S.A. ( Util) e a
Redenção Transporte e Turismo Ltda, bem como um ex-superintendente do
Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE), João de Aguiar Pupo,
denunciado por omissão.
A
investigação do MP estadual acerca dessa licitação é antiga. Mas, além
da ação civil pública, outra novidade no caso refere-se ao pedido feito
na Justiça do benefício da delação premiada para as proprietárias da
empresa Redenção, que apresentaram ao Ministério Público possíveis
provas de fraude e formação de cartel. "Nessa ação, estamos inovando ao
pedir o benefício do perdão judicial, por meio do recurso da delação
premiada", frisa Ricardo Rocha.
Aos
promotores do Ministério Público, proprietários da Redenção repassaram
um "protocolo de intenções e outras avenças", no qual os empresários
participantes combinaram previamente as condições para participação do
certame licitatório, informou Ricardo Rocha.
Segundo
ele, no "protocolo" os participantes do processo colocaram no papel e
assinam todas as condições para que a empresa Redenção, concorrente do
lote II da licitação Nº 002/2009, formando um consórcio com a empresa
Util, desistisse da disputa desfazendo o consórcio, deixando que a
empresa Fretcar (do mesmo grupo da Util) ganhasse a licitação.
Regras O
protocolo, hoje anexado à ação civil pública, oficializa a intenção de
formar um cartel e fraudar a licitação para a concessão de
operacionalização do transporte intermunicipal, conclui o promotor.
"Protocolo de intenções era realmente para valer, porém a Fretcar não
cumpriu as regras pela Fretcar após o certame", cita o promotor. A
cláusula primeira do protocolo de intenções explicita que,
posteriormente ao resultado da concorrência, as linhas seriam assim
distribuídas: Fretcar ficaria com a linha Fortaleza/Redenção, Fortaleza
Barreira, Fortaleza/Guaramiranga (via CE-065), Fortaleza/Baturité,
Fortaleza/Aratuba, Fortaleza/Guaramiranga (via CE-060), Baturité/Quixadá
e Quixadá/Canindé.
A
mesma cláusula prevê para a Redenção a operacionalização das linhas
Fortaleza/Quixadá (via BR-116/BR-122), Fortaleza/Quixeramobim,
Fortaleza/Milhã/Solonópole (via BR-116/BR-122/CE-060), Fortaleza/Pedra
Branca (via BR-116/BR-122/CE-060), Fortaleza/Mombaça (via
BR-116/BR-122/CE-060, Quixadá/Crateús, Quixadá/Limoeiro do Norte.
"Depois
de muitas investigações, fizemos várias recomendações ao então
superintendente do Detran-CE (João de Aguiar Pupo), porém não foi
adotada nenhuma providência para resolver o caso", lembra Ricardo Rocha.
As despesas para a realização da concorrência, observa, foram ordenadas
pelo Detran.
Por
sua vez, João Pupo, atualmente secretário de Conservação e Serviços
Públicos de Fortaleza, afirma que ao assumir a direção do Detran, em
2007, o fez "com o firme propósito de regularizar o sistema de
transporte", por isso sua determinação em realizar licitações públicas.
Também admitiu ter recebido informações de irregularidades no certame,
porém a prova, no caso um protocolo entre os responsáveis pelas
empresas, "só me foi repassada pelo MP no dia 8 de julho passado, quando
eu não era nem mais superintendente", diz Pupo.
Já
o Detran-CE, através de sua Assessoria de Imprensa, esclarece não ter
sido notificado da ação judicial, assim não pode se pronunciar sobre o
assunto. "Contudo, o processo de licitação foi finalizado há mais de
três anos, gerando uma redução de 14% no preço da passagem", ressalta o
Detran.
Varas Na
ação do MP, que será distribuída em uma das varas da Fazenda Pública,
além do ex-dirigente do Detran e dos proprietários da Redenção, é citado
ainda Marco Petrônio Abreu Carlos, diretor da Fretcar e da Until. Ao
ser procurado pela reportagem, o empresário encaminhou o assunto ao seu
advogado, Fábio Ozório. "Diante da ausência de informações precisas
sobre a denúncia, sem termos o conhecimento da mesma, resumo dizendo que
a empresa já se defendeu na Justiça sobre as denúncias envolvendo
possíveis irregularidades na licitação, sendo inocentada de qualquer
prática ilegal até então", comentou o advogado.
O
Ministério Público defende, ainda, que os envolvidos em atos de
improbidade administrativa, que provocaram lesões ao erário, devem ter
seus bens tornados indisponíveis até o julgamento final da ação.
A reportagem tentou contato com os responsáveis pela Redenção Transporte e Turismo Ltda, mas não conseguiu. Por Mozarly Almeida - Repórter Diário do Nordeste.
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